pós-foda na bahia do seu deus

estou no banheiro quente fumando um cigarro e com medo de abrir a janela por causa das lagartixas. fumo suando e tentando adivinhar quem é o deus dele. volto pra cama, deixo o mosquiteiro aberto. estamos na bahia. parece um sonho. a noite está quente. acabamos de transar. estamos na bahia. a cortina tem um tecido que imita chita. o ventilador roda, faz a cortina dançar. bahia.
uso só um body preto, canelado, com uma renda vagabunda nas alças. meus pés estão estourados por andar demais com chinelos novos. viro pro lado esquerdo. ele está dormindo e eu ainda não sei quem ele escolheu como deus.
minutos atrás estávamos transando. a cama balançando, o casal francês do quarto atrás existindo, nossos corpos emitindo sons e cheiros.
eu já tive muito mais paciência pra tudo.
ele respira forte, eu faço um carinho, queria transar mais. eu sempre quero.
reclamo em pensamento sobre como me condicionei a querer tudo muito sempre. nunca me contentei com pouco, com o normal, o razoável. nunca. nem menina, pobre, fudida, indo pra escola com uniforme de doação porque nem pra isso meus pais tinham dinheiro. não gosto de dividir, não gosto de dar o que não quero dar. mas quando eu quero, eu quero com gosto. eu dividido com gosto, amo com gosto, fodo com gosto.
ele dorme com gosto. estamos na bahia.