fodam-se as pessoas ruins — e que legal que a annie ernaux existe

Débora Lopes
2 min readOct 13, 2024

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quando as coisas ameaçam dar errado, eu volto para os mesmos poemas, os mesmos discos, os mesmos livros, as mesmas pessoas. até porque pessoas novas me assustam. sua espontaneidade, maldade e imprevisibilidade.

ontem fiz a boa ação (nada demais) de receber uma encomenda para uma vizinha desconhecida. depois de alguma troca de mensagens, ela parou de me responder, indignada, pois eu disse no grupo que havia uma encomenda para ana carolina X, mas, na verdade, a encomenda era para ana beatriz X. sim. elas têm o mesmo sobrenome. sim. elas são irmãs. sim. elas moram no mesmo prédio. sim. ela foi até a encomenda que deixei na portaria (uma mera mesinha sem porteiro), se certificou de que era para a irmã, não para ela, e deixou a encomenda lá a deus dará. sei que é um pouco larrydavidiano da minha parte me incomodar com algo tão pequeno, mas deus me livre dos seres humanos. é uma pena que os cachorros fazem tanto xixi e cocô. não fosse isso e o tanto que gasto com suplementos, remédios e veterinário, eu teria uns 347 deles.

as pessoas são estranhas. como aquela amiga-irmã dos tempos de faculdade que hoje é só mais uma piranha que desprezo (ps — eu sou feminista, mas amo a palavra piranha, e é ela nem é piranha no sentido promíscuo da palavra, eu só quero xingá-la de piranha mesmo, ok?).

uma amiga disse que eu deveria criar uma newsletter, mas o que fazer se continuo tendo prazeres surpreendentes (ironia) escrevendo em um blog em pleno 2024? será que sou uma mulher antiga? honestamente, não ligo. meu exercício físico favorito é escrever aqui.

estou lendo annie ernaux, quase no finalzinho de um de seus livros, e como essa mulher tem classe. a memória da annie ernaux é um poço profundo, assustador e admirável. sua escrita é cristalina, elegante. tenho até medo de falar que me lembra um pouco joan didion e dar azo aos "especialistas em literatura" e em queimar vivas as bruxas que ameaçam comentar qualquer coisa sobre o assunto. mas como dizia minha amiga paulete na época em que a gente ouvia hustler, do simian mobile disco e frequentava o glória (de onde saíamos com cara de vampiras só quando já era dia), nem confiança.

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