gente fritando bife e eu aqui
dá seis horas da tarde e começa a subir pela janela um cheiro de mortadela na frigideira, gente cozinhando feijão, fritando bife, fazendo purê de batata, ligando a tv pra ver desgraça, criança chegando da escola e querendo brincar sem tirar o uniforme, eu fechando o expediente, mais um dia depois de escrever laudas e laudas, criar post-its, fazer listas, lutar contra a minha própria cabeça, às vezes vencer e às vezes não. gente fritando bife e eu lutando aqui dentro.
outro dia vi um post que dizia assim: sua cabeça é seu lugar mais sagrado. faça dela um lugar bom de se viver. e eu comecei a imaginar a minha cabeça como um grande cenário com árvores e pássaros e piscinas e hambúrgueres e mar. coisas que eu amo e que são confortáveis de ver e viver. e então a minha cabeça virou uma grande sala de estar com sofás macios e almofadas e janelão e vitrola e um maço de cigarro que eu não fumo mais (só às vezes).
e agora eu, arquiteta, quero criar a minha cabeça, planejar, fazer dela um lugar bom de se viver, sem desgraças e paranoias e bad trips ou assombrações do passado martelando.
e na minha cabeça eu vou voar, eu vou viver feliz, porque essa é a cabeça que eu idealizei e ela é curada de todo mal.
