imagina ser presidente dessa porra

guilherme boulos estica seu passaporte e enfia o documento na máquina logo depois de mim. ele entra num café e eu me sento em frente ao portão de embarque. fico observando um garotinho falando mais que a boca com o avô, um sujeito grisalho de modos simples. então aprumo meu pescoço pra frente e tento falar sobre arraias com o menino. conto que nadei na ilha do combu, no pará, com medo; e um amigo meu, se cagando mais ainda, nadou de tênis. as arraias ficam sorrateiras pelo fundo do rio. uma pisadinha e já era. bicho perigoso. o menino, então, petrifica. nenhuma reação ou sinal de vida. muita criança petrifica quando é supreendida. não sei se o fato de eu estar maloqueira e descabelada piorou, mas não tive a atenção que queria. petrifiquei uma criança, parece.
guilherme boulos não vi mais, mas me perguntei: será que ele acorda e pensa “eu já me candidatei à presidência do brasil?”. não sei se é um pensamento que vem e vai, ou que se apaga, quiçá constante, está sempre lá — eu mesma não aguentaria esse peso nas costas, horror total, mil vezes credo.
o irmão mais novo de uma amiga dizia desde muito pequeno que queria ser presidente do brasil. "ele toma banho todos os dias com duas toalhas", ela contou. rei na barriga desde sempre. eu teria pavor de ser presidente. caso algum dia eu enlouqueça, por favor, me prometam uma coisa: nunca votem em mim.