make caladryl na virilha great again

Débora Lopes
2 min readSep 2, 2020

foi em cores neon que quase-quase cravei meu nome no peito de um homem, mesmo que eu estivesse mais interessada em drinks, beatnik, chicletes, cabelo esvoaçante, cor de rosa choque. era minha última semana de férias e minha única intenção era passar todos os dias de biquini verde-limão até precisar lambuzar a virilha de caladryl pra aquietar a insolação e poder dormir em paz.

é claro que eu lia receitas de doces, poemas da ana cristina césar e conferia frequentemente minhas correspondências com medo de ser convocada a trabalhar como mesária nas eleições. no fundo, eu estava sem tempo para amar.

à época, via muito mais charme em livros e discos, beijos no escuro, música gótica, noites em botecos conversando com sujeitos completamente diferentes entre si sem conseguir me interessar por absolutamente nenhum. então fingia a vontade de acender mais um cigarro só pra despistar alguém pois não queria dar meu telefone. achava isso chato.

numa noite, cedi. anotei meu telefone num papel e fui pra casa. logo o telefone tocou e achei aquilo inconveniente. era o homem cujo peito eu quase-quase fincaria meu nome, apesar de jamais poder namorá-lo. impossível amar alguém que diga aos quatro ventos que U2 é a maior banda de rock do mundo. vai, sei lá, ouvir kyuss, cara. não me liga mais. que bosta.

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