mano do céu
estou ouvindo bad brains, pensando em sexo, carregando ovos e bananas que comprei no pão de açúcar, tenho planos. vejo o contra-ataque do irã, começo a suar, não é futebol, está quente hoje, minha mão começa a suar, não sou bélica. espero para atravessar a rua, um cara passa no farol quase vermelho, mostro o dedo do meio e mando ele tomar no cu, arrombado, estou ouvindo I against I, começa a chover, subo minha rua, preciso lavar meu edredom sujo de sangue, correr e andar pelo menos 2 km ainda hoje, passear com o cachorro, comprar proteína, organizar meus boletos, tenho vontade de entrar numa briga, a guerra me indigna — um pouco bélica agora.
vou chegar em casa e a chuva vai apertar, direi boa noite ao sr. pedro, verei uma formiga gigante no chão, terei de esperar o elevador. quando entrar, irei perceber que estou franzindo as sobrancelhas sem querer, estarei brava, eu sei. chegarei em casa, pensarei no aviso prévio. não só.
tiro roupa do varal, lavo xixi de cachorro, converso com a minha roommate, fervo água.
tomarei banho, irei passear o cachorro se a chuva parar — a vida em círculos — , não vou conseguir correr, vou me frustrar, esquentarei a janta, tentarei ler o manifesto comunista, mas acabarei dormindo no meio de um episódio de sex and the city.
preciso acordar cedo, treinar, ir aos correios, pagar o analista, não esquecer da chave, não esquecer de mim. preciso trabalhar, ler, escrever, criar, ser doce, não desagradar.
subo a rua da minha casa. estou dolorida de treino. estou dolorida. só existe uma verdade entre as palavras que li e reli três vezes hoje. só uma. mas isso importa pouco perto dos mísseis cruzando o céu.
