medicada ela é ótima
procurei terapia cognitiva comportamental e recebi ho'oponopono e constelação familiar. são tempos insanos, eu sei. minha metade amorosa continua terna. o problema é meu lado infernal, o lado que eu escondo e para o qual dedico horas, dias, sessões e sessões de terapia há anos, espiritualidade, respirações. hoje eu abri o jogo: "olha, sou grata por tudo, mas preciso dizer que, bem, FODA-SE, vai tudo pra puta que pariu, é o pior dos cenários". e clara crocodilo me corrigiu: "ressignifique essa frase, débora. não é o pior dos cenários".
não é? não é, clara, o pior dos cenários? pois o melhor dos cenários eu posso te descrever com detalhes ricos:
acordo. faz frio e um sol lindo lá fora. é sábado e não tenho que fazer nada. a casa está limpa, a louça lavada. ligo o som alto, acendo um incenso, tomo um banho gostoso, café, visto meu vestido favorito (mas eu nem tenho um), meto bota preta nos pés e jaqueta jeans. faço um delineado torto nos olhos, passo batom vermelho, encho a cara de blush e os dedos de anéis. uso o cabelo meio-preso, jogando a presilha lá pro alto. estou linda e cheirosa. vou dar rolê no centro. passo no foto ferrara, deixo uns filmes pra revelar e compro dois kodak pro image 100 por 18 reais cada um. vou pra galeria do rock curiar uns tênis e uns jacos, mas não compro nada. o dia esquenta e amarro a jaqueta na cintura. vou no ita. sento naquele balcão que amo. peço uma macarronada com coca-cola. depois ando pelas lojas de tranqueiras do centro, compro uma ou outra bobagem pra casa, quem sabe dou um jump num brechozinho. pra fechar a tarde, sorvete vegano na soroko já com vontadinha de ir pra casa ver um filme francês da década de 70 bem patrícia indie cult burguesa s@f@d@.
isso aqui é, basicamente, o que eu preciso pra ser medíocre em são paulo. e isso está longe do pior dos cenários. mas, na atual conjuntura da republiqueta, é um cenário ok.
então, para finalizar seu late night ho'oponopono energético & vibrático talk-show namastê com sotaque belenense, clara crocodilo rebate com classe, elegância e psicodelia: "débora, deixe entrar um pouco d’água no quintal".
ô meu caralho.