ubatuba long-lasting

Débora Lopes
2 min readApr 18, 2023

--

ubatuba

só choveu nos três dias que passamos em ubatuba. mas pra quem tá carregado de comida, cerveja, aperol, champanhe e cigarro, reclamar é indigno. exceto quando o assunto é o cheiro de mofo e a quantidade de aranhas dentro do quarto de uma casa antiga que provavelmente passou semanas fechada e na qual irei dormir. mas basta olhar ao redor e ver o verde-vênus da mata atlântica que passa. as árvores majestosas nos espiando. os pássaros cantando quando a chuva torrencial dá trégua. os border collies e o vira-lata caramelo molhados pedindo carinho. um amigo tocando aquele som lindo e doído do alice in chains na viola (eu tô grunger, gente, tá foda).

existe vida no mundo e nós somos a vida.

os dogs

está chovendo em são paulo. quase frio. dou um play aleatório nas músicas do king krule, responsável por embalar as primeiras semanas do meu romance favorito e long-lasting (eu amo essa expressão). elas me transportam para um tempo e espaço que nem sei se vivi. tudo se confunde nas profundezas da minha mente cheia de cores vivas.

falando assim lembrei do dia que roubaram meu celular em barcelona. eu voltei pro hostel em que estava hospedada indignada. subi na beliche ainda de calça jeans e casaco de frio. chorei. as lágrimas escorriam pelas laterais do meu rosto. e assim acordei às seis ou sete horas da manhã. lavei o rosto e fui pra rua. parei numa banca de jornal e pedi uma edição qualquer. "de direita ou de esquerda?", o jornaleiro me perguntou. comprei o jornal, parei na padaria da frente, pedi um café e um pão — ou algo assim — e fiquei lá, com ódio, sem celular em barcelona, lendo o jornal em espanhol.

parece chique, mas eu estava no veneno.

maior prova de que viver é uma grande viagem.

--

--