um astronauta sentado num balde e outras histórias irrelevantes

hoje, duda, a manicure, me confessou muitas coisas: engravidou e perdeu, trocou altas ideias com deus tentando negociar sua saúde mental em prol do novo bebê que carregava na barriga, relatou as conversas com o ex-marido e também os absurdos ditos por uma psicóloga. travamos um papo atípico dentro de um salão de beleza. e eu acho a expressão "salão de beleza" tão forte. falei sobre descargas de adrenalina, expliquei (por alto, pois minha formação em medicina foi só até a 13ª temporada de grey's anatomy) sobre o papel dos neurotransmissores, a gravidade na descontinuação abrupta de medicamentos como sertralina, ou melhor, desmame. a gente falava línguas diferentes, mas era, no fundo, a mesma língua. e quando duda soltou os cabelos eu vi uma mulher diferente. muito leonina. ela me disse que era leonina. ela soltou o picumã e eu pensei: que força enorme você tem. papo vai, papo vem. libido, casamento novo, a necessidade de sexo, dores pelo corpo. "nega, você sabe que…" falava, muito doce, com uma voz baixa e de paz. e eu fingindo paz pois sou ótima fingidora quando quero ser palestrinha com alguém, apesar de tentar dosar um pouco, tenho medo de ser insuportável mesmo sabendo que, em muitos momentos, sou. dia desses dentro do carro contei toda a minha saga estudantil e terminei em lágrimas, como uma menininha, tipo aquele som bem machista do bob dylan que fala "ela ama como uma mulher, fode como uma mulher, mas chora como uma menininha". música idiota. já chorei ouvindo? já sim. gosto de bob dylan? também. e daí, agora não posso reclamar no meu próprio medium? vocês me afrontam demais. eu sou livre pra escrever o que quiser.
um pouco antes de conhecer a duda e sua história de vida, eu estava rindo sozinha, rindo com as coisas do trabalho, frita que só, mas rindo, porque qualquer bobagem me faz feliz. e a diferença que existe entre nós duas, ah, na real são muitas, mas a duda coloca os filhos na frente de tudo, negocia sua saúde mental com deus, e eu nem filhos tenho. então eu negocio comigo mesma os meus horários, as minhas atribuições. hoje mesmo negociei: ok, você quer escrever? mas prometa não escrever coisas muito profundas. e vá, no máximo, até uma e meia da manhã. da última vez você foi dormir perturbada com as coisas que escreveu. não conseguiu dormir e fritou até as quatro da manhã pra no outro dia estar pronta pra vida, com reboco na cara, adidas no pé, whey na coqueteleira e, de preferência, com o lixo devidamente levado até o subsolo do prédio. na verdade, é tudo mentira. eu escrevo muitas mentiras aqui e no twitter e acho que as pessoas compram, acham que é real, que faço essas coisas. eu nunca nem tirei o lixo da minha própria casa. eu sou rica e disfarço para que não me roubem. na adolescência, eu morava numa casa muito fudida na mooca e meu amigo falava "eu sei que você é rica e essa casa velha de parede descascada é só fachada pra disfarçar a mansão que tem do lado de dentro". a gente ria pra porra. mas um dia fiquei ofendida quando jogaram um papel portão adentro dizendo "ajudamos cortiços". e eu pensei: será que pensam que moro num cortiço? e dia desses minha mãe me disse: "filha, você precisa se arrumar mais, cortar o cabelo, passar mais maquiagem. só assim pra ganhar melhor". agora pensei aqui que a partir de hoje vou investir mais na técnica ricardo lísias, que, quando perguntado — e, se não me engano, processado na justiça –– sobre o fato de "divórcio" ser uma história real, onde ele expõe um chifre fudido que tomou da ex-mulher, jornalista conhecida, dizia: "gente, é tudo ficção". é tudo ficção mesmo. tudinho. as pessoas que pensam demais e gostam de ser ludibriadas com qualquer coisa que leem.
fui pesquisar uma foto de astronauta e me deparei com a seguinte legenda "homem sentado em balde". olhei pra foto e era um astronauta sentado num balde mesmo. se tá complicado até pro profissional interplanetário, imagina pra mim e pra duda. e pra casa que eu morava. e pro ricardo lísias. e pra minha mãe lidando comigo sem cortar o cabelo. mas, mãe, hoje eu cortei o cabelo.